segunda-feira, 10 de março de 2008

Nada mais, nada menos que poeira estelar =D

Estou lendo "A garota das laranjas", de J. Gaarder. E muitas vezes ele cita o telescópio Hubble, que foi lançado em órbita em 25/04/1990, que contribuiu para que a gente conheça um pouco mais do universo.

Fiquei curiosa,e fui pesquisando imagens que foram tiradas por ele. Impressionam pela grandiosidade, beleza que o universo nos transmite, assim como também (para mim) o mar. Quando olho e penso nisso tudo vejo como meus medos, minhas angústia, minha existência é SIGNIFICANTE. Sim, significante porque me sinto parte de tudo isso.

Sinto a alegria por fazer parte dessa gloriosa cadeia que é a vida, e me encho de esperanças e desejos de contribuir para ter mais afetividade, alegria, vida e compreensão no meu mundinho.

Porque ser poeira estelar é fazer parte ativa em tudo isso, é se sentir incluída e agradecida por mais do que existir: por VIVER.
"...Se tudo que aconteceu no universo pudesse se condensar num único dia, a Terra só teria surgido no fim da tarde. Os dinossauros apareceriam alguns minutos antes da meia noite. E os seres humanos existiriam há apenas dois segundos..."Jostein Gaarder, 'A garota das laranjas' :)





domingo, 9 de março de 2008

Sobre o 8 de março

"Eu tinha 13 anos, em Fortaleza, quando ouvi gritos de pavor. Vinham da vizinhança, da casa de Bete, mocinha linda, que usava tranças. Levei apenas uma hora para saber o motivo. Bete fora acusada de não ser mais virgem, e os dois irmãos a subjugavam em cima de sua estreita cama de solteira, para que o médico da família lhe enfiasse a mão enluvada entre as pernas e decretasse se tinha ou não o selo da honra. Como o lacre continuava lá, os pais respiraram, mas a Bete nunca mais foi a mesma, nunca mais dançou nos bailes e acabou fugindo para o Piauí, ninguém sabe como, nem com quem.
Eu tinha apenas 14 anos, quando Maria Lúcia tentou escapar, saltando o muro alto do quintal da sua casa para se encontrar com o namorado. Agarrada pelos cabelos e dominada, não conseguiu passar no exame ginecológico. O laudo médico registrou "vestígios himenais dilacerados", e os pais internaram a pecadora no reformatório Bom Pastor, para se esquecer do mundo. Realmente esqueceu, morrendo tuberculosa.
Estes episódios marcaram para sempre a minha consciência e me fizeram perguntar que poder é esse que a família e os homens têm sobre o corpo das mulheres. Ontem, para mutilar, amordaçar, silenciar.Hoje, para manipular, moldar, escravizar aos estereótipos. Todos vimos, na televisão, modelos torturadas por seguidas cirurgias plásticas. Transformaram seus seios em alegorias para entrar na moda da peitaria robusta das norte-americanas. Entupiram as nádegas de silicone para se tornarem rebolativas e sensuais, garantindo bom sucesso nas passarelas do samba. Substituíram os narizes, desviaram costas, mudaram o traçado do dorso para se adaptarem à moda do momento e ficarem irresistíveis diante dos homens. E, com isso, Barbies de fancaria, provocaram em muitas outras mulheres - as baixinhas, as gordas, as de óculos - um sentimento de perda de auto-estima.
Isso exatamente no momento em que a maioria de estudantes universitários (56%) é composta de moças: na pesquisa científica, na política, no jornalismo. E no momento em que as pioneiras do feminismo passam a defender a teoria de que é preciso feminilizar o mundo e torná-lo mais distante da barbárie mercantilista e mais próximo do humanismo.
Por mim, acho que só as mulheres podem desarmar a sociedade. Até porque elas são desarmadas pela própria natureza. Nascem sem pênis, sem o poder fálico da penetração e do estupro, tão bem representado por pistolas, revólveres, flechas, espadas e punhais. Ninguém diz, de uma mulher, que ela é de espadas. Ninguém lhe dá, na primeira infância, um fuzil de plástico, como fazem com os meninos, para fortalecer sua virilidade e violência. As mulheres detestam o sangue, até mesmo porque têm que derramá-lo na menstruação ou no parto. Odeiam as guerras, os exércitos regulares ou as gangues urbanas, porque lhes tiram os filhos de sua convivência e os colocam na marginalidade, na insegurança e na violência.
É preciso voltar os olhos para a população feminina como a grande articuladora da paz. E, para começar, queremos pregar o respeito ao corpo da mulher. Respeito às suas pernas que têm varizes, porque carregam latas d'água e trouxas de roupa. Respeito aos seus seios que perderam a firmeza, porque amamentaram seus filhos ao longo dos anos.Respeito ao seu dorso que engrossou, porque elas carregam o País nas costas. São as mulheres que imporão um adeus às armas, quando forem ouvidas e valorizadas e puderem fazer prevalecer a ternura de suas mentes e a doçura de seus corações.
Nem toda feiticeira é corcunda, nem toda brasileira é bunda. E meu peito não é de silicone; mas sou mais macho que muito homem."
(Rita Lee)
Acho que nossos dias são todos os dias, ñ apenas um. Mas também acho importante ter uma data, para lembrança do momento histórico, e também para ressaltar que a luta por igualdade nos direitos e deveres continua, e é cotidiana.