quinta-feira, 19 de junho de 2014

Sobre a Militância

Hoje descobri que ser militante de uma causa é muito além do que eu imaginava.
É muito mais árduo.
Eu já havia entendido que militar em prol de algo, em uma sociedade que afirma preferir a honestidade, mas abomina as pessoas honestas, acaba abrindo um abismo entre eu mesma e outras pessoas.
Logo a mim, que primo o diálogo  e defendo a liberdade de expressão, a primeira coisa que me falam é: mas você é partidária e só quer estar certa. Isso me deixa pasma: ser partidária, óbvio, devido que tomo um partido de algo; mas quanto a estar certa, isso é tão ambíguo... Me choca especialmente por vir de pessoas que conhecem a minha postura e convivem comigo. Parece que não restando argumentos sai um: 'mas essa é a minha opinião. Você só quer estar certa'.
Bem, a respeito de opiniões, óbvio que cada um tem o direito de ter  a sua. Mas não necessariamente ela está certa; era opinião recorrente há alguns anos atrás, que canhotos eram pessoas com algum problema cerebral ou de origem demoníaca, pois escreviam com a mão errada. Era uma opinião do senso comum. (Sem citar maiores polêmicas, sobre pessoas negras, ou com deficiência...).
Mas, voltando ao cerne da questão, que já estou tergiversando: ser militante não é apenas ter a coragem, o impulso, de estar num local e defender uma causa que para muita gente estava perdida, ou expor o próprio corpo com risco à violência física. Ser militante é chorar.
Porque esse choro estava preso dentro de mim há dias, quando vi o Cais José Estelita no 21 de maio ser demolido às escuras, em plena madrugada. E correr embaixo do temporal que desabava sobre a cidade. E me comover com Sério Urt espancado pelos capangas da quadrilha que derruba o patrimônio e se acha dono de todos nós. E resistir às críticas de familiares e colegas de trabalho sobre cuidar de sua própria vida, se ocupar, em vez de procurar 'sarna para se coçar'. É aguentar o cansaço físico de um dia extenuante de trabalho, continuar resistindo. É fazer um trabalho de formiguinha em redes sociais, conversas no ônibus, na hora do almoço... com pessoas conhecidas e desconhecidas sobre o tema escolhido. É sonhar junto. É acreditar. É ver o movimento crescendo. E é chorar ao ver o sonho sendo destruído em meio à balas de borracha, chicotadas, bomba de gás lacrimogêneo. E ainda ver, através da mídia, toda uma deturpação do movimento.
Como é difícil ser militante.
Mas o mais difícil, para mim, nesses últimos dias, foi ouvir de pessoas próximas  e queridas, que eu deveria me ocupar com causas mais nobres. Que as empreiteiras estão certas, pois são donas do espaço. Que só estamos, como vagabundos, atrapalhando o trânsito da cidade. Então hoje eu desabei, admito. Toda essa tragetória citada veio à tona e fiz o que muitas vezes me recomendou minha avó: fui chorar na cama, que é lugar quente. E como esse choro foi amargo. Me peguei refletindo se houvesse um outro movimento ditatorial no Brasil seriam justamente os meus 'amigos' quem me denunciaria ou viraria as costas para mim. Isso doeu tanto...
Não, eu não desisti. Eu tenho o gosto pela esperança e a teimosia de seguir em frente. As palavras de apoio, de carinho, de tantos outros, só me fortalecem. A fé de querer uma cidade melhor para meu filho me mostra que estou no caminho certo.  A crença de que sem Justiça não há Paz me faz seguir em frente.
Mas admito que hoje tive mais uma dura lição, e espero aprender com ela.
Porque esse caminho não é nada fácil.
Mas nossos sonhos renascerão.
E serão mais belos, e serão mais fortes.
#ResisteEstelita



quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Sobre a pressa de viver

Sou uma pessoa bem pragmática e nada romântica: Não há romantismo algum na escrita desse texto.
Mas há muito tempo me incomoda como as relações e sentimentos humanos estão sendo departamentalizados, coisificados em nossa sociedade.
Cada vez mais nos deparamos com exemplos de pessoas que têm perdido esse contato humano, a empatia pelo outro, o ouvir. Sei que vivendo em uma cidade agitada e de trânsito infernal como Recife temos cada vez menos tempo de fazer o que gostamos, de ver, falar com quem amamos, de apreciar os aspectos da vida. Sei e sinto tudo isso. Mas tento sempre resistir - sim, resistir. Não quero viver a minha vida sem de fato apreciá-la, assim como às pessoas e coisas que amo e me fazem bem.
Me preocupa e admito que até aborrece esse espírito de estresse que permeia o mês de dezembro. Como professora realmente é um mês agitado, de avaliações e toda a parte burocrática que faz parte do cotidiano escolar no fim do ano letivo, além do próprio cansaço físico, visto que o corpo pede (merecidas) férias. Mas não é essa agitação a que me refiro, até porque ela faz parte de meu trabalho: Me aborrece é  que dezembro tornou-se o mês das diversas confraternizações, um mês apressado, um mês que as pessoas se esbarram e agridem em centros comerciais para comprar, consumir, e se esquecem de olhar para o outro. 
Olhar para aquele amigo que era inseparável, mas que o cotidiano separou.
Olhar para dentro de nós mesmos.
Apreciar com olhos de criança o quanto a cidade se embeleza para o natal.
E lembrar qual o real sentido do natal...
Por que resolvemos nos prender nesse círculo? Por que optamos em ser conformistas e aceitar isso?
A gente muitas vezes se acostuma a tudo isso, mas não deveria.

ps:  Encontrei esse vídeo há dias e ele me foi bem ilustrativo. Se tiver paciência, veja. Vale a pena.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Recomeço

Sempre gostei de escrever, desde criança.
Lembro que escrevi diários, fiz agendas, fazia anotações em livros. Mas com a pressa cotidiana perdi muito disso, do escrever.
Havia até me esquecido desse blog.
Hoje resolvi voltar, aos poucos, a escrever. 
O que não quer dizer que escrevo bem.
O que não quer dizer que serei lida.
O que não garante que irá durar.
Mas, como tudo na vida: quem sabe?
O importante, sempre, é recomeçar.

domingo, 26 de junho de 2011

My way

And now the end is near,
And so I face the final curtain.
My friend, I'll say it clear,
I'll state my case, of which I'm certain.

I've lived a life that's full,
I travelled each and every highway.
And more, much more than this,
I did it my way.

Regrets I've had a few,
But then again too few to mention.
I did what I had to do,
And saw it through without exemption.

I planned each chartered course,
Each careful step along the by way.
And more, much more than this,
I did it my way.

Yes,
There were times,
I'm sure you knew,
When I bit off more than I could chew.

But through it all, when there was doubt,
I ate it up, and spit it out.
I faced it all, and I stood tall,
And did it my way.

I've loved, I've laughed, and cried,
I've had my fail, my share of losing.
And now, as tears subside,
I find it all so amusing.

To think I did all that,
And may I say, not in a shy way.
Oh no, oh no, not me
I did it my way.

For what is a man, what has he got,
If not himself, then he has not
To say the things he truly feels,
And not the words of one who kneels.

The record shows,
I took the blows
And did it my way.

Yes, it was my way.
Frank Sinatra

sábado, 20 de novembro de 2010

Deus

'Mesmo para os descrentes, há a pergunta duvidosa: E depois da morte?
Mesmo para os descrentes, há o momento de dor: Que Deus me ajude.
Neste instante, estou pedindo que Deus me ajude. Estou precisando. Precisando mais do que a força humana. E estou precisando da minha própria força. Sou forte, mas também sou destrutiva. Autodestrutiva. E quem é autodestrutivo também destrói aos outros.
Estou ferindo muita gente. E Deus precisa vir até a mim, já que não tenho ido até Ele.

Venha Deus, venha.
Mesmo que eu não mereça, venha.
Ou os que menos merecem, necessitam mais.
Só uma coisa a favor de mim eu posso dizer: nunca feri de propósito. E também me dói quando percebo que feri.
Mas tantos defeitos tenho. Sou inquieta, ciumenta, áspera, desesperançosa. Embora amor dentro de mim eu tenha. Só não sei demonstrar amor - às vezes, parecem farpas.
Se tanto amor dentro de mim recebi e continuo inquieta e infeliz, é porque preciso que Deus venha.
Venha antes que seja tarde demais.
|Clarice Lispector|

domingo, 31 de outubro de 2010

Ainda não passou.

'...Triste é não chorar.
Sim, eu também chorei.
E não, não há nenhum remédio para curar essa dor.
Que ainda não passou, mas vai passar.
A dor, que me machucou.
E não, não há nenhum relógio que faça volta
O tempo voa...'
Nando Reis

sábado, 16 de outubro de 2010

Keep Walking

A vida sempre segue, e o mundo não espera que nos reconstruímos, mesmo com o coração dilacerado, mesmo quando sorrimos quando na verdade queremos chorar.
Por mais cruel que isso seja, assim é a vida. E ela exige da gente coragem.
Por maior que seja a vontade de desistir, seguirei.
Mesmo que minha vontade de isolar-me seja maior, seguirei.
Faz parte de mim, como se estivesse em meu DNA, essa resiliência, o desejo de seguir, de não deixar minha vida ser uma fonte de amarguras.
Se isso é coragem? Não.
É mais orgulho, raiva, ruindade. Isso é o que eu sou.
Se tens um coração de ferro, bom proveito.
O meu, fizeram-no de carne e sangra todos os dias.
Saramago