sábado, 20 de outubro de 2007

Sobre a inversão de valores

Se há algo que ultimamente tem me chateado é a inversão de valores de algumas pessoas, inclusive dos chamados intelectuais. Explico-me:

Há alguns dias,o apresentador Luciano Huck foi assaltado, e escreveu um artigo em que demonstrava sua indignação. Pessoalmente, achei o artigo um tanto prepotente, mas entendo o que o cidadão Huck passou e sentiu - na verdade, acho que todo o mundo que já teve uma arma apontada na cabeça sabe também: além do medo, a raiva diante de um/a vagabundo/a que leva o que nos custou trabalho.

Pois bem: qual a minha surpresa quando vejo que a maioria das respostas dos leitores solidarizou-se com o ladrão em questão, evidenciando a desigualdade brasileira, que faz com que essa seja a única 'oportunidade' que pobre tenha. O próprio cantor Zeca Baleiro (do qual eu gosto muito das músicas e considerava um cara inteligente) arrisca: 'A elite brasileira é engraçada! Só lembra que há desigualdade no Brasil quando levam seu rolex.' Seria cômico, se ñ fosse trágico...

Já que o país é tão desigual, pode-se roubar à vontade para equilibrar a balança!!!

Essa inversão de valores é tão grande que esquecemos um preconceito ferrenho nisso tudo: que pobre só nasceu para ladrão (ou vcs acham que político que rouba milhões ñ é ladrão tb?). Na prática,o discurdo de pessoas que defendem essa demagogia é isso: 'Huck é rico, o que custa um rolex para ele? Agora para aqueles pobres coitados...'

Bem, então faremos como Raul Seixas há tanto tempo aconselhou irônicamente: !''A SOLUÇÃO É ALUGAR O BRASIL!'

Quero deixar claro que ñ estou simplesmente à defesa de L.H., mas sim contra esse maniqueísmo, essa falsa moral que age dessa forma: rico ou pobre, mauricinho ou largadão, estudante, desempregado... NINGUÉM deveria passar por essa violência, e (pior!) ser desrespeitado com um discurso desse tipo: 'é pobre, coitado, ñ teve outra opção de vida'. Para mim, isso é apologia ao crime. E isso, como pessoa e cidadã, me ofende.

Definitivamente, se falar desse jeito é ser 'do bem', eu ñ sou.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Recomeço

Com fascínio e afeto, ela contempla o mar que se estende à sua frente. Se sente tão diminuta, tão insignificante diante desse mar, que se percebe como um grão de areia dessa praia. Mas isso é tão bom... É tão bom sentir-se integrada a isso tudo, tão bom se perceber como parte dessa maravilhosa evolução - Uma evolução que demorou milhares de anos para que essa moça nascesse.

Sentindo-se parte de um elo dessa corrente, ela contempla o mar, e agradece à vida por tudo o que viveu, e sente-se feliz - na verdade, em êxtase: naqueles raros momentos em que os seres humanos sentem-se (nem que seja por minutos) completos, confiantes da vida, envolvidos pela vida, absortos na vida.

Então, ela respira fundo, dá às costas ao mar, e pensa: já está na hora de recomeçar. Vai embora para casa, serena, decidida que já era hora de recontar sua história.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Pensamentos

O que sente? Nada.
Em que acredita? (Passa em seu pensamento idéias abstratas: na humanidade, nas pessoas, na vida) em suma: em nada.
O que deseja? Não sabe...
[Não sei se penso em tudo, ou se tudo me esquece...]
Custa tanto viver! Um desejo intenso de viver coisas, uma saudade que não passa do que não viveu, uma vontade constante de se afirmar, mas ñ para os outros, para si própria... acreditar que não é mais aquela garotinha que corria para a varanda de casa esperando pela volta da mãe - que um dia simplesmente não voltou.
[Não sei se sou feliz, nem se desejo sê-lo...]
Cada vez mais esse 'não sentir' lhe dá agonia, como uma reviravolta no estômago: Afinal, o que há de errado com ela?
Por quê cada vez que lhe elogiam ela olha para a pessoa com desconfiança, tentando saber através da expressão do rosto do outro se isso é verdade ou zombaria?
Por que esse constante sentir-se gauche na vida?
[Por que fiz eu dos sonhos a minha única vida?]
Uma coisa é certa: cada vez mais se convence que ela ñ é nada daquilo que falam (inteligente, amiga, alegre, confiável...). Sente-se mal por tudo isso: parece que está enganando as pessoas que ama. Pior: parece que cada vez engana mais a si mesma.
Percebendo sua solidão como palpável, ela suspira. Nem lágrimas para chorar tem... Quem ela é, se pergunta. E, no mesmo instante, vem-lhe o pensamento: 'E você vai agüentar saber, de verdade?'