Hoje descobri que ser militante de uma causa é muito além do que eu imaginava.
É muito mais árduo.
Eu já havia entendido que militar em prol de algo, em uma sociedade que afirma preferir a honestidade, mas abomina as pessoas honestas, acaba abrindo um abismo entre eu mesma e outras pessoas.
Logo a mim, que primo o diálogo e defendo a liberdade de expressão, a primeira coisa que me falam é: mas você é partidária e só quer estar certa. Isso me deixa pasma: ser partidária, óbvio, devido que tomo um partido de algo; mas quanto a estar certa, isso é tão ambíguo... Me choca especialmente por vir de pessoas que conhecem a minha postura e convivem comigo. Parece que não restando argumentos sai um: 'mas essa é a minha opinião. Você só quer estar certa'.
Bem, a respeito de opiniões, óbvio que cada um tem o direito de ter a sua. Mas não necessariamente ela está certa; era opinião recorrente há alguns anos atrás, que canhotos eram pessoas com algum problema cerebral ou de origem demoníaca, pois escreviam com a mão errada. Era uma opinião do senso comum. (Sem citar maiores polêmicas, sobre pessoas negras, ou com deficiência...).
Mas, voltando ao cerne da questão, que já estou tergiversando: ser militante não é apenas ter a coragem, o impulso, de estar num local e defender uma causa que para muita gente estava perdida, ou expor o próprio corpo com risco à violência física. Ser militante é chorar.
Porque esse choro estava preso dentro de mim há dias, quando vi o Cais José Estelita no 21 de maio ser demolido às escuras, em plena madrugada. E correr embaixo do temporal que desabava sobre a cidade. E me comover com Sério Urt espancado pelos capangas da quadrilha que derruba o patrimônio e se acha dono de todos nós. E resistir às críticas de familiares e colegas de trabalho sobre cuidar de sua própria vida, se ocupar, em vez de procurar 'sarna para se coçar'. É aguentar o cansaço físico de um dia extenuante de trabalho, continuar resistindo. É fazer um trabalho de formiguinha em redes sociais, conversas no ônibus, na hora do almoço... com pessoas conhecidas e desconhecidas sobre o tema escolhido. É sonhar junto. É acreditar. É ver o movimento crescendo. E é chorar ao ver o sonho sendo destruído em meio à balas de borracha, chicotadas, bomba de gás lacrimogêneo. E ainda ver, através da mídia, toda uma deturpação do movimento.
Como é difícil ser militante.
Mas o mais difícil, para mim, nesses últimos dias, foi ouvir de pessoas próximas e queridas, que eu deveria me ocupar com causas mais nobres. Que as empreiteiras estão certas, pois são donas do espaço. Que só estamos, como vagabundos, atrapalhando o trânsito da cidade. Então hoje eu desabei, admito. Toda essa tragetória citada veio à tona e fiz o que muitas vezes me recomendou minha avó: fui chorar na cama, que é lugar quente. E como esse choro foi amargo. Me peguei refletindo se houvesse um outro movimento ditatorial no Brasil seriam justamente os meus 'amigos' quem me denunciaria ou viraria as costas para mim. Isso doeu tanto...
Não, eu não desisti. Eu tenho o gosto pela esperança e a teimosia de seguir em frente. As palavras de apoio, de carinho, de tantos outros, só me fortalecem. A fé de querer uma cidade melhor para meu filho me mostra que estou no caminho certo. A crença de que sem Justiça não há Paz me faz seguir em frente.
Mas admito que hoje tive mais uma dura lição, e espero aprender com ela.
Porque esse caminho não é nada fácil.
Mas nossos sonhos renascerão.
E serão mais belos, e serão mais fortes.
#ResisteEstelita