domingo, 14 de dezembro de 2008

Aniversário :)

"É bom olhar pra trás
E admirar a vida que soubemos fazer
É bom olhar pra frente
É bom, nunca é igual
Olhar, beijar e ouvir cantar um novo dia nascendo
É bom e é tão diferente..."
(Dessa vez - Nando Reis)

26 anos... Feliz, feliz, feliz =D
Marzel tov!!

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

De Emma a Amy

O maior problema de Emma Bovary, a protagonista do romance de Flaubert publicado há 151 anos, não é o marido, Charles, mas o tédio – tédio que ele representa à perfeição. Como um poeta romântico, ou como o próprio Flaubert, Emma queria uma vida mais imprevisível e vibrante, uma existência que não se resumisse ao papel social da esposa-mãe. Seu problema não é ser submissa ou não; é ter uma existência menos rotineira e estereotipada. Amy Winehouse em quase tudo parece ser o oposto de Emma, mas, lendo a biografia de Chas Newkey-Burden recém-lançada (Globo, tradução Helena Londres), lá está ele, o tédio, de novo: "Houve ocasiões em que aprontei na televisão e já apareci bêbada porque estava entediada."

De Emma a Amy, a vida das mulheres passou pelas maiores transformações; elas, que sempre foram tão mais perspicazes que os homens, avançaram muito. Mas nem tudo mudou. Quando lemos sobre grandes mulheres modernas como Lou Andreas Salomé, Coco Chanel ou Gala, encontramos dilemas muito parecidos sob modos de vida que chocariam Madame Bovary – ou a nossa Capitu. Sim, porque Dom Casmurro é como se fosse a história de Flaubert contada por Charles, o marido que não entende o que sentem as mulheres por baixo de sua dissimulação e obliqüidade. Sua vaidade de filhinho carola o impede de encarar, mais do que a provável traição com Escobar, o mundo interior que ela tem a revelar, o mar de experiências e sensações que aqueles olhos sugerem.
Hoje, ao ver as moças vestidas com roupas poderosas e óculos que cobrem meio rosto e dirigindo carrões SUV como se atravessassem Kosovo no auge da guerra, num primeiro momento Emma e Capitu talvez pensassem que seu triste fim não foi em vão. No segundo momento, perceberiam que o equilíbrio entre praticidade e aventura não é tão sólido assim. Pois o tédio também mudou de forma, ou multiplicou as suas. O que antes era cobrança para ser a estável dona de casa é agora uma miríade de pressões para que seja bem-sucedida, fashion, magra, bem informada, sexy, independente e... a estável dona de casa. Aí estão os comerciais de margarina que não me deixam mentir.

Não foi diferente com mulheres brasileiras modernas, responsáveis por abrir caminhos muito importantes. Quando lemos as memórias de Danuza Leão ou a biografia de Leila Diniz por Joaquim Ferreira dos Santos, que acaba de ser publicada (coleção Perfis Brasileiros, Companhia das Letras), vemos que sua atitude libertária contrasta com seus amores doídos e, mais importante, com a própria insistência em fazer sua vida girar em torno dos homens o tempo todo, até mesmo em prejuízo das carreiras. Veja a vulnerabilidade de outra libertária da contracultura, Eddie Sedgwick, a amiga chique de Warhol (Sienna Miller no filme Factory Girl), tão descolada e drogada quanto Amy.
Há certa ingenuidade nessa angústia; por mais conscientes que as mulheres sejam de como eles podem ser bobos (e de como elas mesmas podem ser chatas), continuam a se projetar em ideais. A sensação que tenho às vezes é a de que todas – mesmo as que reúnem em boas doses essas supostas qualidades – sonham ser a Angelina Jolie, a princesa que casou com o príncipe Brad Pitt. Rita Hayworth notou que os homens iam dormir com Gilda e acordavam com Rita. Hoje é o caso de dizer que nem mesmo Angelina é uma mulher como Angelina Jolie.

Para dar outro exemplo, Carla Bruni, a charmosíssima cantora e modelo que aos 40 anos se casou com o presidente da França e se tornou um símbolo mundial de elegância e comportamento, diz numa das canções melosas de seu último CD: "Você é meu vício, a teus pés deposito minhas armas." O mesmo vale para Amy, que diz ser "maternal" com os amigos e escreve excelentes versos como "Você volta para ela/ Eu volto para nós". Quer saber? Acho isso muito bonito. Desde os trovadores do século 12 os homens cantam seus amores para elas; nada mais justo que elas cantem de volta agora, em vez de cair no ódio feminista aos homens. E pelo menos Bruni não parece o tipo de mulher que, como Amy, fica chorando por seu homem no chão da cozinha. Mas o fato é que, em média, elas ainda querem do marido o fim de todo o tédio.

É a principal e talvez única desvantagem sua em relação aos homens: elas não sabem ser objetivas em tais assuntos. Eles ainda se apaixonam mais rapidamente e elas ainda se desapaixonam mais lentamente. Elas sofrem mais com o desencanto, levando a admirável inquietude feminina a se confundir com a dolorosa insatisfação feminina. E fingem não ter tanto interesse pela beleza masculina na hora de justificar que namorem velhos feios e ricos, mas têm ataque histérico quando encontram um bonitão da TV.

Mesmo com a juventude atual ensaiando relações casuais, em que o sexo não é necessariamente o mesmo que o amor, poucas mulheres cedem aos impulsos como gostariam. Como diz Fabrício Carpinejar nas ótimas crônicas de Canalha (Bertrand Brasil), "a autoridade é secularmente feminina". Eu acrescento: a liberdade, não. Como sua antiga exigência pelo homem perfeito não é nem pode ser atendida, elas descambam em consumismo e cinismo ou em solidão e caretice, muitas vezes em tudo isso junto. A dificuldade em vencer o tédio sem perder o eixo persiste. Não é homem que está em falta. É leveza.
Daniel Piza (Texto publicado no jornal O Estado em 03.11.2008)
ps¹: Embora tendo algumas críticas a esse texto, achei-o interessante.
Ps²: Vou voltar a publicar mais aqui :)

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Quando o futuro torna-se presente

Os dias seguem sem motivos especiais para interessá-la. Tenta algumas novas atividades, que a princípio lhe eram empolgantes, e agora não têm mais sentido.
Dias que correm e transformam-se em semanas, meses. 'Daqui a pouco -pensa- Virarão anos. E eu estou assim, parada, sem cor, sem forma. Estagnada'.
Lembrou de como era aos 12, 14, 18 anos: Da perspectiva que tinha, de como se imaginava quando tivesse essa idade e realizasse as atividade, planos que agora realizou. Tudo lhe parecia tão distante, mas tão maravilhoso! Onde ficcou, onde perdeu tal perspectiva de futuro? Em que momento esse futuro virou presente e ela nem percebeu?
Sorriu ante a lembrança da frase que sua avó sempre repetia: Vida que segue, antes que o diabo a carregue! 'Nada como ser prática e realista como vovó', pensou. Ergueu a cabeça e decidiu que já passou da hora de contar e viver a sua História.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Anestesia

Só quem já se despediu de uma pessoa que ama, sabe o quanto é difícil.
Parece que os últimos dias se passam como em anestesia, e se tenta lembrar, conhecer, viver coisas e lugares não vistos, conhecidos, vividos.
Se olha sempre para a pessoa que vai, tentando absorver os últimos momentos juntas, ouvir novas e antigas expressões, querendo guardar reminiscências. Tentando absorver o último gole.
Anestesia.
O tempo que antes se arrastava, corre a galopes.
No aeroporto, correria, pendências a serem resolvidas na última hora, burocracia. Embarque urgente, em cima da hora, ela mal se despede, dá um adeus geral, várias pessoas querendo se despedir no último instante.
Na última vez que vi Courtney e a abracei, sorrimos. Por mais que internamente eu me desmanchasse em lágrimas, ela vai se lembrar de mim com um sorriso. E isso me deixou feliz.
Te amo, amiga.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Sobre o fim das coisas

Admito que sou ruim, sinto-me ruim, quando as coisas terminam: fim de ano, fim de festa, formatura, me deprime. Sempre prefiro começar.
Lembro de quando comecei o mestrado: as alegrias, a euforia, madrugadas estudando (nem tanto quanto deveria, admito...), artigos publicados, congressos, bares, risadas, amigos, stress, cerveja e caldinho, caipirosca e filé com fritas...
Agora que defendi a dissertação, além do alívio e alegria de ter acabado, dá aquele banzo... Mas estou muito feliz. E o que me faz bem é a perspectiva de recomeçar, de novos horizontes, do apoio dos amigos, a idéia de trabalho cumprido.
Porque eu gosto de começcar e recomeçar... E de vez em quando eu olho sim para trás... ;)
Ps: OBRIGADA aos amigos e amigas que me apoiaram tanto nesse longo caminho! Sem o apoio, estímulo, carinho, risadas de vocês, o caminho seria bem mais difícil: Aos que foram à minha defesa; Aos que não puderam ir, mas telefonaram, deixaram recados no orkut, mandaram e-mail, torceram por mim... Obrigada, gente! Por tudo!!!
=D

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Em memória das vítimas.

Já faz algum tempo que evito falar do 'caso Isabella'. Isso porque, apesar de me ter sensibilizado bastante com a tragédia dessa criança, percebo que há pessoas que estão lucrando muito em cima da morte dela, como é notadadamente o caso da mídia, que resolveu morar em frente à casa dos parentes de Isabella e da delegacia que investiga o caso - Não, não sou contra a liberdade da imprensa, muito pelo contrário: o que eu realmente gostaria de perceber é a ética presente nela.
Porque eu não considero uma atitude ética invadir, expor a dor alheia, como se tem feito. Ou se ater em um caso, esquecendo outros que na semana anterior eram 'a bola da vez': refiro-me ao fato da menina de Goiás, torturada pela empresária Sílvia Calabresi - de repente, reportagens como essa desapareceram. O mesmo ocorreu com os diversos casos de pedofilia que estavam sendo denunciados: sumiram de 'cena', não interessam mais. Não existem.
Esquecer as vítimas, ignorá-las, é outra forma delas serem novamente violadas. A ausência da justiça em suas tragédias, faz com que quem as machucou fique livre, gozando dos plenos direitos que 'nós', pessoas que acreditamos que bater não é educar, que protegemos nossas crianças e jovens desses torturadores, convivam conosco. E assim, banalizamos a tortura, a pedofilia, os maltratos,os assassinatos. As vítimas viram números.
A violência doméstica é um fato no Brasil e no mundo, que humilha, destrói, mata milhares de crianças ao ano, nas diversas classes sociais. Ano passado, sofremos por João Hélio, esse ano, por Isabella: O que virá depois? Será que deixará de nos impressionar? Será que vamos naturalizar tal violência?? Nos horrorizamos ao ver imagens de bebês abandonados em lixeiras, portas de hospital, rios... mas quando eles já começam a andar, quando estão um pouco maiores e nos pedem esmola ou vendem chicletes nos sinais, os ignoramos. afinal, isso não é problema nosso, não é mesmo?
Ou a sociedade muda suas idéias do que seja 'educar', sua concepção de infância, ou estaremos cada vez mais voltando às cavernas, e contrariando as perspectivas dos estudos de Darwin, regredindo em vez de evoluir: é a barbárie.

Querem linchar para esquecer que ontem voltaram bêbados e não sabem em quem bateram.

NA ÚLTIMA sexta-feira, passei duas horas em frente à televisão. Não adiantava zapear: quase todos os canais estavam, ao vivo, diante da delegacia do Carandiru, enquanto o pai da pequena Isabella estava sendo interrogado.
O pano de fundo era uma turba de 200 ou 300 pessoas. Permaneceriam lá, noite adentro, na esperança de jogar uma pedra nos indiciados ou de gritar "assassinos" quando eles aparecessem, pedindo "justiça" e linchamento.Mais cedo, outros sitiaram a moradia do avô de Isabella, onde estavam o pai e a madrasta da menina. Manifestavam sua raiva a gritos e chutes, a ponto de ser necessário garantir a segurança da casa.
Vindos do bairro ou de longe (horas de estrada, para alguns), interrompendo o trabalho ou o descanso, deixando a família, os amigos ou, talvez, a solidão -quem eram? Por que estavam ali? A qual necessidade interna obedeciam sua presença e a truculência de suas vozes?Os repórteres de televisão sabem que os membros dessas estranhas turbas respondem à câmera de televisão como se fossem atores. Quando nenhum canal está transmitindo, ficam tranqüilos, descansam a voz, o corpo e a alma. Na hora em que, numa câmera, acende-se a luz da gravação, eles pegam fogo.Há os que querem ser vistos por parentes e amigos do bar, e fazem sinais ou erguem cartazes. Mas, em sua maioria, os membros da turba se animam na hora do "ao vivo" como se fossem "extras", pagos por uma produção de cinema.
Qual é o script?Eles realizam uma cena da qual eles supõem que seja o que nós, em casa, estamos querendo ver. Parecem se sentir investidos na função de carpideiras oficiais: quando a gente olha, eles devem dar evasão às emoções (raiva, desespero, ódio) que nós, mais comedidos, nas salas e nos botecos do país, reprimiríamos comportadamente.Pelo que sinto e pelo que ouço ao redor de mim, eles estão errados.
O espetáculo que eles nos oferecem inspira um horror que rivaliza com o que é produzido pela morte de Isabella.Resta que eles supõem nossa cumplicidade, contam com ela. Gritam seu ódio na nossa frente para que, todos juntos, constituamos um grande sujeito coletivo que eles representariam: "nós", que não matamos Isabella; "nós", que amamos e respeitamos as crianças -em suma: "nós", que somos diferentes dos assassinos; "nós", que, portanto, vamos linchar os "culpados".Em parte, a irritação que sinto ao contemplar a turma do "pega e lincha" tem a ver com isto: eles se agitam para me levar na dança com eles, e eu não quero ir.
As turbas servem sempre para a mesma coisa. Os americanos de pequena classe média que, no Sul dos Estados Unidos, no século 19 e no começo do século 20, saíam para linchar negros procuravam só uma certeza: a de eles mesmos não serem negros, ou seja, a certeza de sua diferença social.
O mesmo vale para os alemães que saíram para saquear os comércios dos judeus na Noite de Cristal, ou para os russos ou poloneses que faziam isso pela Europa Oriental afora, cada vez que desse: queriam sobretudo afirmar sua diferença.
Regra sem exceções conhecidas: a vontade exasperada de afirmar sua diferença é própria de quem se sente ameaçado pela similaridade do outro. No caso, os membros da turba gritam sua indignação porque precisam muito proclamar que aquilo não é com eles. Querem linchar porque é o melhor jeito de esquecer que ontem sacudiram seu bebê para que parasse de chorar, até que ele ficou branco. Ou que, na outra noite, voltaram bêbados para casa e não se lembram em quem bateram e quanto.
Nos primeiros cinco dias depois do assassinato de Isabella, um adolescente morreu pela quebra de um toboágua, uma criança de quatro anos foi esmagada por um poste derrubado por um ônibus, uma menina pulou do quarto andar apavorada pelo pai bêbado, um menino de nove anos foi queimado com um ferro de marcar boi. Sem contar as crianças que morreram de dengue. Se não bastar, leia a coluna de Gilberto Dimenstein na Folha de domingo passado.
A turba do "pega e lincha" representa, sim, alguma coisa que está em todos nós, mas que não é um anseio de justiça. A própria necessidade enlouquecida de se diferenciar dos assassinos presumidos aponta essa turma como representante legítima da brutalidade com a qual, apesar de estatutos e leis, as crianças podem ser e continuam sendo vítimas dos adultos.

CONTARDO CALLIGARIS
Tudo isso que vem acontecendo é mesmo muito triste, e é em situações assim que cada vez mais duvido da humanidade que os seres humanos deveriam ter... Mas situações de 'revanche' como essa, demonstra cada vez mais que estamos mais próximos da barbarie do que imaginamos, já que estamos contribuindo para ter a mesma atitude que assassinos.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Nada mais, nada menos que poeira estelar =D

Estou lendo "A garota das laranjas", de J. Gaarder. E muitas vezes ele cita o telescópio Hubble, que foi lançado em órbita em 25/04/1990, que contribuiu para que a gente conheça um pouco mais do universo.

Fiquei curiosa,e fui pesquisando imagens que foram tiradas por ele. Impressionam pela grandiosidade, beleza que o universo nos transmite, assim como também (para mim) o mar. Quando olho e penso nisso tudo vejo como meus medos, minhas angústia, minha existência é SIGNIFICANTE. Sim, significante porque me sinto parte de tudo isso.

Sinto a alegria por fazer parte dessa gloriosa cadeia que é a vida, e me encho de esperanças e desejos de contribuir para ter mais afetividade, alegria, vida e compreensão no meu mundinho.

Porque ser poeira estelar é fazer parte ativa em tudo isso, é se sentir incluída e agradecida por mais do que existir: por VIVER.
"...Se tudo que aconteceu no universo pudesse se condensar num único dia, a Terra só teria surgido no fim da tarde. Os dinossauros apareceriam alguns minutos antes da meia noite. E os seres humanos existiriam há apenas dois segundos..."Jostein Gaarder, 'A garota das laranjas' :)





domingo, 9 de março de 2008

Sobre o 8 de março

"Eu tinha 13 anos, em Fortaleza, quando ouvi gritos de pavor. Vinham da vizinhança, da casa de Bete, mocinha linda, que usava tranças. Levei apenas uma hora para saber o motivo. Bete fora acusada de não ser mais virgem, e os dois irmãos a subjugavam em cima de sua estreita cama de solteira, para que o médico da família lhe enfiasse a mão enluvada entre as pernas e decretasse se tinha ou não o selo da honra. Como o lacre continuava lá, os pais respiraram, mas a Bete nunca mais foi a mesma, nunca mais dançou nos bailes e acabou fugindo para o Piauí, ninguém sabe como, nem com quem.
Eu tinha apenas 14 anos, quando Maria Lúcia tentou escapar, saltando o muro alto do quintal da sua casa para se encontrar com o namorado. Agarrada pelos cabelos e dominada, não conseguiu passar no exame ginecológico. O laudo médico registrou "vestígios himenais dilacerados", e os pais internaram a pecadora no reformatório Bom Pastor, para se esquecer do mundo. Realmente esqueceu, morrendo tuberculosa.
Estes episódios marcaram para sempre a minha consciência e me fizeram perguntar que poder é esse que a família e os homens têm sobre o corpo das mulheres. Ontem, para mutilar, amordaçar, silenciar.Hoje, para manipular, moldar, escravizar aos estereótipos. Todos vimos, na televisão, modelos torturadas por seguidas cirurgias plásticas. Transformaram seus seios em alegorias para entrar na moda da peitaria robusta das norte-americanas. Entupiram as nádegas de silicone para se tornarem rebolativas e sensuais, garantindo bom sucesso nas passarelas do samba. Substituíram os narizes, desviaram costas, mudaram o traçado do dorso para se adaptarem à moda do momento e ficarem irresistíveis diante dos homens. E, com isso, Barbies de fancaria, provocaram em muitas outras mulheres - as baixinhas, as gordas, as de óculos - um sentimento de perda de auto-estima.
Isso exatamente no momento em que a maioria de estudantes universitários (56%) é composta de moças: na pesquisa científica, na política, no jornalismo. E no momento em que as pioneiras do feminismo passam a defender a teoria de que é preciso feminilizar o mundo e torná-lo mais distante da barbárie mercantilista e mais próximo do humanismo.
Por mim, acho que só as mulheres podem desarmar a sociedade. Até porque elas são desarmadas pela própria natureza. Nascem sem pênis, sem o poder fálico da penetração e do estupro, tão bem representado por pistolas, revólveres, flechas, espadas e punhais. Ninguém diz, de uma mulher, que ela é de espadas. Ninguém lhe dá, na primeira infância, um fuzil de plástico, como fazem com os meninos, para fortalecer sua virilidade e violência. As mulheres detestam o sangue, até mesmo porque têm que derramá-lo na menstruação ou no parto. Odeiam as guerras, os exércitos regulares ou as gangues urbanas, porque lhes tiram os filhos de sua convivência e os colocam na marginalidade, na insegurança e na violência.
É preciso voltar os olhos para a população feminina como a grande articuladora da paz. E, para começar, queremos pregar o respeito ao corpo da mulher. Respeito às suas pernas que têm varizes, porque carregam latas d'água e trouxas de roupa. Respeito aos seus seios que perderam a firmeza, porque amamentaram seus filhos ao longo dos anos.Respeito ao seu dorso que engrossou, porque elas carregam o País nas costas. São as mulheres que imporão um adeus às armas, quando forem ouvidas e valorizadas e puderem fazer prevalecer a ternura de suas mentes e a doçura de seus corações.
Nem toda feiticeira é corcunda, nem toda brasileira é bunda. E meu peito não é de silicone; mas sou mais macho que muito homem."
(Rita Lee)
Acho que nossos dias são todos os dias, ñ apenas um. Mas também acho importante ter uma data, para lembrança do momento histórico, e também para ressaltar que a luta por igualdade nos direitos e deveres continua, e é cotidiana.

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Existe vida sem internet?

Para uma viciada em net, como eu, as 3 últimas semanas sem acesso à rede foram difíceis. Mas eu prometi a mim mesma que seria forte, que ñ procuraria lan house, que eu aguentaria até ser instalada na minha nova casa.

Os primeiros dias, foram bem difíceis, quase que ñ cumpro minha promessa. Ficava às vezes divagando com quem eu estava deixando de falar, o que estava deixando de fazer, o que estava deixando de saber.

Aí eu percebi que meu meio de informação era a net: que eu ñ via ou lia mais jornal, que estava deixando de ligar para os amigos só para deixar recado em orkut ou e-mail, que perdia um tempo descarado em vez de fazer coisas mais 'úteis' ou interessantes.

Não é que a net tem apenas lados negativos, EU quem ñ estava administrando bem meu tempo aqui. E essa mudança tem que ser feita é em mim. Para mostrar quem manda em quem.
Bem, é isso: existe sim, vida sem internet.
Mas que bom tê-la de volta em casa! Mas eu garanto que agora vou tentar fazer outras coisas em vez de ficar agarrada no computador.
I promisse!!!

domingo, 20 de janeiro de 2008

Diálogos

Estava eu assistindo a um filme de dinossauros com meu filho (sim, é impressionante como uma pessoa cretina e desesperançosa com eu ainda inventa de ter filhos, né?) quando começamos uma conversa assim:
-Mãe, como os dinossauros morreram?
-Bem, filho, caiu um meteoro há muiiiiiiiitos anos atrás e houveram muitos problemas (explico o que é um meteoro).
-Então, o céu vai cair?! (amedrontado)
-Bem, filho, sempre caem pequenas estrelas, mas é muito difícil mesmo cair outro grande como aquele.
-...
-E o que aconteceu com os dinossauros? Viraram anjos ou fantasmas?
-Por que você acha isso, Pedro?
-Ora, eu li no gibi!
(Hora de cancelar essa assinatura, penso. Mas aí caí na real: eu JAMAIS impedirei meu filho de ler seja lá o que for... Conhecimento nunca fez mal a ninguém... mesmo que ele algum dia invente de ler (por favor, não!) o novo testamento...).
-Bem, filho, gibis são historinhas... historinhas para gente ler, se divertir, mas muita coisa é fantasia...
-Então é mentira? (indignado)
-Não, Pedro, é imaginação, entendeu?
-Aaaaaaaaaa...
Voltou a assistir o filme.
Bem, ele só tem 5 anos, e vai ter o momento de começar a pensar de forma menos fantasiosa e mais racional: não sou eu quem vou alimentar mentiras em meu pequeno, mas também não quero pular etapas: a vida tem tempo.
Já sou cretina o suficiente.